quinta-feira, 10 de novembro de 2016

O GOVERNADOR DORME BEM ? - James Pizarro (jornal A RAZÃO, 10/11/2016)


COLUNISTAS

O governador dorme bem?


James Pizarro

por James Pizarro em 10/11/2016
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Exerci o magistério na UFSM, cursinhos pré-universitários e escolas particulares durante quase meio século, apesar de formado em Agronomia apenas. Nunca tive a experiência de ser professor de escola pública, mas convivi com colegas e parentes que exerceram esta função.
Acompanho – há décadas – a batalha e a pauta de reivindicações dos colegas do magistério estadual. Estudei toda minha vida no Maneco, conhecido à época como “colégio padrão do Rio Grande do Sul” (estava impresso nos papéis timbrados do colégio). O diretor era o saudoso padre Rômulo Zanchi, conhecido pela sua férrea e exemplar disciplina. Naquela época não seria imaginável alunos invadirem e ocuparem escolas. A escola era um templo.
Lembro de todas as greves do magistério, as dezenas de ônibus que partiam de Santa Maria, as assembleias no Centro de Atividades Múltiplas (“Bombril”) comandadas pelo amigos professores Elizabeth Gonçalves e, depois, Feliciano Menezes. Quando “estive” vereador, na legislatura 1988/91, sempre colaborei com o sindicato com telefone do gabinete, xerocópias e demais pedidos para deputados. Enfim, sempre estive a par de tudo a respeito da categoria.
No trato com os professores ao longo desses anos todos já vi de tudo. Vi governador mandando tocar os cavalos contra os professores que tiveram de se refugiar dentro da Assembleia Legislativa. Vi governador se recusando a receber comissão de professores para discussão de pauta de reivindicações e cortando os miseráveis salários. Vi governador não pagando o piso salarial para o magistério que ele mesmo criou quando foi ministro da Educação. Vi professores se retirando da luta sindicalista (ou ficando mudos) quando o governador eleito era do seu partido e voltando a protestar nas ruas quando o governador eleito era de partido adversário. Já vi de tudo. Incoerências. Incompreensões. Injustiças. De todos os lados. De todos os partidos. Sem uma única exceção.
Mas o que presenciei nesta semana pela TV foi demais para minha sensibilidade. Diante do parcelamento dos salários patrocinado pelo governador gaúcho, os professores estaduais têm recebido parcelas ridículas que não dão para saldar a conta da luz e da água. Não podem fazer a compra semanal de mantimentos. A televisão entrevistou professores que não podem ir à escola porque não podem pagar a passagem de ônibus. E outros não têm o que comer. Estão com cobradores batendo às suas portas. Uma das diretoras de escola de Porto Alegre disse à reportagem, aos prantos, que não abandonava o magistério e se demitia do Estado porque faltavam apenas 3 anos para ela se aposentar. Sabedores disso, grupos de jovens alunos em diversas cidades gaúchas postam-se nos cruzamentos centrais e pedem dinheiro para os professores pagarem suas contas. Outros alunos arrecadam gêneros alimentícios de casa em casa. Alimentos estão sendo arrecadados na portaria de muitas escolas da capital.
Chorei diante da televisão ao presenciar esta degradante humilhação.
Senhor governador: o senhor consegue dormir bem ?

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