sexta-feira, 8 de abril de 2016

UMA CRIANÇA PODRE - James PIZARRO


O feto estava no alagadiço. Resto de mangue na praia dos Ingleses.
Misturado a galhos da vegetação. E folhas em decomposição.
Cheiro de maresia. Misturado à carne humana em decomposição.
Deveria ter uns sete meses aquela criança.
Loira. Sexo feminino. Lindinha.
Aborto feito primitivamente. Assassinada por uma mãe desesperada.
Dois ou três furos na cabeça do feto. Provavelmente com agulha de tricô.
Pelos orifícios corria massa encefálica.
Pedaços de um cérebro que não veio a ser.
Parecia fio de ovos escorrendo.
Mais um vítima da miséria.
Do medo.
Da ignorância.
Na TV políticos nojentos sorriem.
E prometem segurança. Trabalho.
Saúde. E educação.
Mentem sem pudor algum. São mortos em vida.
E fedem muito mais do que aquele feto.

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