quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

COLUNISTAS

O tumor

James Pizarro
por James Pizarro em 03/12/2015
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CADENA - Na última visita que fiz a Santa Maria fui passear no Parque Itaimbé, que achei mal conservado, bancos caídos, calçamento em péssimas condições, sujeira por todo lado, árvores com galhos quebrados. Fiquei lembrando da minha infância e do arroio Cadena, hoje canalizado e aprisionado embaixo da terra. O arroio era ladeado por densa floresta de galeria, com taquareiras nas margens, o que evitava a erosão. Tinha cobras, rãs, sapos, pequenas tartarugas, grande número de insetos, lambaris em suas águas de sanga. Todos brincávamos sem problema algum, sem medos, sem assaltantes, sem pedófilos, num silêncio cortado apenas pelo canto dos passarinhos. Que saudade! Que melancolia ao ver tudo aquilo acabado. Para sempre.
AUSÊNCIA - A ilha é linda. A ilha é mágica. Mas nestes dias de chuva ocorre algo. Bate uma saudade do meu pai morto. Bastam vários dias sem sol e a gente fica soturno. Sombrio por dentro. Emotivo mais do que nunca. Bate uma saudade dos barrancos da Silva Jardim. Onde fui guri. E sonhei ser desenhista. E clarinetista de banda de jazz. E acabei fazendo tudo pelo avesso. Embora tenha me realizado na plenitude como professor. Não saberia fazer melhor outra coisa do que falar. Passar adiante conhecimentos. Mas bate uma saudade dos meus tempos de guri mesmo. Quando eu acreditava em bruxas. E pensava que meu pai era imortal. Hoje - perplexo diante da velhice - Sinto o tempo encurtar. E bate até uma saudade de tudo que me cerca hoje. E uma inveja do tempo futuro. Quando não estarei mais por aqui.
NARA LEÃO - Quando noivos, eu e minha mulher éramos fãs de carteirinha da Nara Leão. Eu tinha todos os discos dela. Acompanhava suas andanças. Sua participação como musa do movimento da “Bossa Nova”. E também seu engajamento político na luta contra a ditadura. No dia 2 de setembro de 1967 nasceu nosso primeiro filho : uma menina. E que recebeu o nome de Nara, em homenagem à nossa musa. Estou relembrando tudo isso porque no dia 7 de junho de 2015, fez 16 anos que Nara Leão morreu. Vítima de um tumor em região de difícil acesso no cérebro. Depois de penar e lutar titanicamente durante dez anos contra a doença, Nara expirou em 7 de junho de 1989.
Há um belo livro para todos que querem saber mais sobre esta extraordinária cantora e ativista política : “Nara Leão: uma biografia”, de Sérgio Cabral, publicado pelas editoras Companhia Editora Nacional e Lazul. O desgraçado de um tumor levou nossa musa precocemente.
James Pizarro

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