sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A (DES)EDUCAÇÃO DE HOJE - James Pizarro

Acabo de ver interessante reportagem na televisão (Programa da Ana Maria Braga) sobre a escola mantida pelo Salgueiro, popular escola de samba carioca. É uma academia de samba destinada a crianças e adolescentes que pretendem ser passistas, músicos da bateria, porta-bandeira e mestre-sala quando adultos. É o Salgueiro preocupando-se com a continuidade e o futuro da escola. É uma grande iniciativa porque afasta a gurizada das ruas e das drogas, desenvolvendo neles habilidades artísticas, físicas e musicais, adestrando-os para uma vida social e para o bem comum.

Mas o que achei mais interessante é que para fazer parte das aulas de samba a piazada toda tem de apresentar ao professor o boletim do colégio atestando que foi promovido de série. Isto é, quem rodou não pode fazer parte! Todo mundo sabe que meninos e meninas que desfilam no Salgueiro fazem parte de uma elite cultural estudantil.

Lembrei imediatamente do meu querido Colégio Estadual Manoel Ribas, o "MANECO" de Santa Maria, interior do RS. Na década de 60 o MANECO era uma verdadeira academia de onde saiam todos os primeiros lugares nos vestibulares da UFSM, razão pela qual era considerado o "colégio padrão do Rio Grande do Sul".

A famosa banda marcial do MANECO - ainda hoje em atividade e da qual eu fiz parte durante 5 anos - era constituída na década de 60 por mais de 200 alunos. E o Pe. Rômulo Zanchi, diretor do colégio e temido pela sua austeridade, exigia dos alunos da banda um excelente desempenho escolar de sorte que toda a cidade sabia que ser integrante da banda era sinônimo de ser bom aluno.

O MANECO de meio século atrás e a Escola de Samba Salgueiro da atualidade nisso se igualam : exigem desempenho escolar e bom comportamento para receber a distinção de representar a instituição.

Tal não é a "lucidez" e a "visão" dos responsáveis governamentais pela educação brasileira da atualidade. Mais de meio século depois das exigências do Pe. Rômulo, os pedagogos governamentais editaram uma regra absurda : "até o quarto ano do Ensino Fundamental é PROIBIDO ser reprovado". Isto é, o aluno esforçado, que estuda e nunca falta às aulas, é legalmente igualado ao aluno que - sabedor desta lei - jamais bota as mãos nos livros para estudar.

Até bem pouco tempo, nos manuais do vestibular estava escrito : "nos cursos onde a relação vaga/candidato for negativa, isto é, o número de vagas for maior do que o número de candidatos, BASTA NÃO TIRAR ZERO". Isto é, o aluno virava universitário se não tirasse zero. Em outras universidades ou cursos superiores isolados o aluno pode marcar a data e a hora para fazer seu vestibular particular, chamado-se a esta farsa de "vestibular agendado". Isso sem falar nas aulas virtuais fartamente usadas hoje, onde o aluno recebe título de graduação e de pós-graduação sem nunca ter visto os professores ao vivo e a cores, uma espécie de universidade parapsicológica.Isso que nem vou falar sobre sistema de cotas e alunos que recebem seu lugar na universidade por "doação" e não por merecimento...

Depois de quase meio século dando aula frente aluno (e não escarrapachado em salas confortáveis com poltronas estofadas e ar condicionado) eu sei de uma coisa óbvia : quando mais se facilitar a vida dos jovens, mais incompetentes, desleixados e vadios eles se tornam. Quando mais exigência, cobrança de comportamento e resultados pais, professores e escolas tiverem, mais homens e mulheres de bem o país terá.

Basta perguntar a qualquer adulto quais os professores que mais eles guardaram na lembrança e no coração. Todos eles responderão que lembram e são agradecidos aos professores mais talentosos e mais rígidos na cobrança de desempenho. Porque estes sim, amavam seus alunos e queriam sua felicidade futura. Os professores "bonzinhos" foram solenemente esquecidos.

Um comentário:

Sandra Petersen disse...

É a mais pura verdade. Nunca esqueci da minha professora de matemática, professora Guilhermina, no colégio Cidade de Cruz Alta, onde morei e estudei nos primeiros anos.
Ela era muito, mas muito rígida e exigente.
Na época eu não gostava muito, mas hoje lembro dela com carinho e saudade do seu senso de justiça.
Valores que cicatrizam para a vida toda.