quinta-feira, 24 de novembro de 2011

ALFEU PIZARRO,MEU PAI - James Pizarro


LUDWIG LARRÉ é jornalista talentoso de Santa Maria, RS, premiado em diversos concursos dos quais participou principalmente como cronista. É jornalista do setor de imprensa da Câmara de Vereadores de S. Maria, onde apresenta o telejornal do Canal 16-TV Câmara, onde trabalhamos juntos. Ele é meu amigo pessoal há muitos anos. Por ocasião da morte de meu pai, que foi lider do movimento da terceira idade e presidente do grupo de idosos chamado "Mexe Coração", Larré escreveu e publicou esta bela crônica no jornal "A RAZÃO", de Santa Maria. Reproduzo-a aqui, em homenagem ao velho Alfeu. E com meu sincero agradecimento ao amigo Ludwig Larré.

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Alfeu “Mexe Coração” Pizarro
Ludwig Larré
jornalista

Fui pego de surpresa com a morte de Alfeu Pizarro. Imaginava que ele fosse imortal, como a permanente jovialidade, o eterno dinamismo e a indefectível disposição, que lhe eram peculiares. Há, porém, muito de imortal em Alfeu Pizarro. Ao longo das duas últimas décadas, Santa Maria se tornou pólo de atividades e de estudos da terceira idade, e o pioneiro dessas ações que devolveram a vida e vontade de viver a tantos anciãos foi justamente ele.
Lembro do seu Alfeu, com o pique e o bom humor de um guri, articulando, discutindo, construindo, buscando soluções, participante e atento a tudo que envolvesse não apenas os interesses da terceira idade, mas de toda a comunidade. Lembro do seu Alfeu carinhoso e apaixonado por sua amada Íria, companheira de todas as lutas.
Minha primeira lembrança do seu Alfeu, entretanto – não por culpa dele –, é um pouco dolorosa. Eu tinha cinco ou seis anos e fomos morar em uma casa, onde pude ter meu primeiro cachorro. Era um mestiço “ovelheiro” preto. Chamava-se Russo e só faltava falar. Numa manhã de verão, o Russo amanheceu morto. Havia sido envenenado, mas, como só se teria certeza depois do laudo de necropsia – demorado naquela época –, tivemos, todos em casa, de tomar injeção anti-rábica.
Naquela época, tomava-se, por vinte e um dias, a tal injeção anti-rábica, desconfortavelmente, em roda do umbigo. E quem ia até nossa casa, todos os dias, para aplicá-la, era o enfermeiro Alfeu Pizarro. Por mais que eu achasse aquele senhor com cara de bonzinho, as injeções eram tremendamente doloridas para um piá da minha idade. Quando seu Alfeu chegava, era preciso resgatar-me de cima das árvores do quintal ou debaixo de alguma cama. Seu Alfeu, injustamente, virou uma espécie de bicho-papão.
– Olha que eu chamo o seu Alfeu! – ameaçavam-me quando eu aprontava alguma diabrura. E eu sempre aprontava.
À medida que fui crescendo, descobri que aquele senhor não tinha nada de bicho-papão. Já adulto, militando no jornalismo, acompanhei toda a epopéia do seu Alfeu e do Grupo Mexe Coração. O homem revolucionou o conceito de qualidade de vida na terceira idade em Santa Maria, exportando o exemplo para todo o Brasil.
Nessa luta, além da Dona Íria, seu Alfeu encontrou outro poderoso aliado, o professor Juca, da UFSM. Uniam-se a vivência prática e a visão acadêmica. O resultado disso projeta o nome de Santa Maria em nível internacional, quando o assunto é promoção do envelhecimento saudável. Para elencar apenas algumas conquistas recentes do seu Alfeu, estão aí a Delegacia e o Conselho Municipal dos Direitos do Idoso. Ele partiu com alguns projetos a concretizar, como a Farmácia do Idoso, um projeto habitacional para pessoas da terceira idade e a inclusão obrigatória das cadeiras de Geriatria e Gerontologia no currículo dos cursos de Medicina do Brasil. São idéias que vão vingar, um dia, tenho certeza. A existência de um homem é reflexo de suas realizações. Alfeu Pizarro vive para sempre!

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