terça-feira, 7 de setembro de 2010

" EL AROMO "

Registro aqui, com grande alegria, este precioso texto assinado por DIEGO BARONI GUTERRES (Alegrete, RS). Este texto me foi repassado pelo grande amigo de tantas décadas MAURO MENEZES, de Santa Maria, RS. Mauro foi Juiz de Direito na comarca de Santa Maria e reside em Florianópolis, há 15 anos. Ele e a Beth, sua esposa, nos receberam de braços abertos aqui nesta ilha da magia. Para melhor ilustrar o texto faço a postagem da gravação de Athaualpa Yupanqui declamando e cantando "El Aromo".
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"Nas minhas andanças rotineiras entre a Campanha e a Fronteira Oeste, parei um dia para apreciar uma árvore que existe no costado de um cerro na margem da BR-290. Voltava numa tarde de domingo para Alegrete, cidade onde atualmente resido, e chamou a minha atenção uma pequena árvore enraizada na fenda de uma pedra, com o caule contorcido e com a copa verdejante. Parei o carro e fiquei contemplando ela e o cenário à sua volta. Depois, tirei uma foto para guardar como recordação daquele momento e daquele iluminado ser. Sendo mais preciso, o local está situado na metade do caminho entre Alegrete e Rosário do Sul, perto de onde tem uma placa que indica faltarem 55 km para chegar em Alegrete. A árvore está ao norte da estrada.

Pois bem, enquanto contemplava aquele “arbolito”, lembrei do tema “El aromo”, de Romildo Risso (o mesmo autor de Los Ejes de mi Carreta) e de Atahualpa Yupanqui. O Aromo, como é chamado na Argentina, é o mesmo Espinilho (Acacia caven (Mol.) Molina) que temos aqui no RS, leguminosa da família Mimosaceae. Embora não tenha relação alguma com a árvore que relato, pois se tratam de espécies diferentes, o contexto de vida do Aromo do poema é o mesmo da árvore que lá na costa do cerro passa os seus dias:

Hay un aromo nacido
en la grieta de una piedra.
Parece que la rompió
pa’ salir de adentro de ella.

Está en un alto pelao
no tiene ni un yuyo cerca
viéndolo solo y florido
tuíto el monte lo envidea.

Lo miran a la distancia
árboles y enredaderas,
diciéndose con rencor
¡pa’ uno solo, cuánta tierra!

En oro le ofrece al sol
pagar la luz que le presta
y como tiene de más,
puñao por el suelo siembra.

Salud, plata y alegría
tuíto al aromo le suebra
asegún ven los demás
desde el lugar que lo observan.

Pero hay que dir y fijarse
cómo lo estruja la piedra,
fijarse que es un martirio
la vida que le envidean.

En ese rajón el árbol
nació por su mala estrella,
y en vez de morirse triste
se hace flores de sus penas.

Como no tiene reparo
todos los vientos le pegan,
las heladas lo castigan,
l’agua pasa y no se queda.

Ansina vive el aromo
sin que ninguno lo sepa
con su poquito de orgullo
porque justo es que lo tenga.

Pero con l’alma tan linda
que no le brota una queja
que no teniendo alegrías
se hace flores de sus penas.
Eso habrían de envidiarle
los otros si lo supieran.

Pero con ‘l alma tan linda
que no le brota una queja,
que no teniendo alegrías
se hace flores de sus penas.

Essa poesia diz muita coisa, transmitindo uma grande mensagem de vida. Muitas vezes julgamos as pessoas a partir das nossas pressuposições, sem conhecer a realidade das suas vidas. Atrevemo-nos a concluir que determinadas pessoas são “isso” ou são “aquilo”, mas não nos preocupamos em tentar entender o porquê das coisas. Sem saber a história da vida dos outros, sem saber das suas experiências, não há como entender aquilo que eles externam através das suas atitudes. Por essa razão, estamos sujeitos a confundir timidez com antipatia, extroversão com insegurança, entre tantos outros comportamentos. E o que nem sempre fazemos é admirar as virtudes. Às vezes, uma pessoa está fazendo o melhor de si, e, por um defeito seu, rotulamo-la por essa falha, desconsiderando os tantos valores que ela talvez possa possuir. Esse tipo de julgamento está expresso na mensagem do Risso: “Lo miran a la distancia / árboles y enredaderas, / diciéndose con rencor / ¡pa’ uno solo, cuánta tierra!”.
Todavia, sabemos que existem muitas pessoas que possuem circunstâncias de vida difícil, árdua, de sofrimento, mas que procuram ser alegres, bondosas, justas, honestas, educadas, etc. E é isso que devemos apreciar e buscar praticar no nosso dia-a-dia. Quantas vezes nos encontramos em meio a lamentações por coisas tão simples, das quais fazemos um problemão, esquecendo de tudo de bom que temos? Quantas vezes reclamamos da vida e sem uma verdadeira razão? Talvez devêssemos levar bem clara na alma a história do Aromo: “Ansina vive el aromo / sin que ninguno lo sepa / con su poquito de orgullo / porque justo es que lo tenga. // Pero con l’alma tan linda / que no le brota una queja / que no teniendo alegrías / se hace flores de sus penas. / Eso habrían de envidiarle / los otros si lo supieran”.
Nesse contexto, podemos perceber a grandiosidade de Romildo Risso e também de Atahualpa Yupanqui e entender o motivo da imortalidade das suas obras: deixaram mensagens universais através da arte, da poesia, da música, do sentimento. A brilhante analogia do Aromo enraizado na fenda da pedra, fazendo flores das suas dores, faz refletir sobre a vida, sobre as atitudes do cotidiano, faz olhar para a natureza com mais profundidade. Vale parar para apreciar esta árvore ao passar naquele lugar, vale muito ouvir o tema “El Aromo” (do disco “A que le llamaman distancia” de Atahualpa Yupanqui), vale parar para observar a natureza e pensar na vida.

Diego Baroni Guterres
Alegrete, 22 de agosto de 2010."
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